“ Os 500 anos da Reforma e o surgimento da Restauração”
Por Marcelo M. Guimarães (*)
Estamos vendo neste momento na mídia comemorações dos 500 anos da Reforma Protestante iniciada por Martinho Lutero, que em 1517 publicou suas 95 teses contra a Igreja Católica Romana.
Evidentemente, a Reforma de Lutero gerou praticamente todas as ramificações evangélicas atuais, desde o Calvinismo, berço dos presbiterianos, dos batistas, dos Wesleyanos, dos Anglicanos e tantas outras. Não cabe aqui mencionar as revelações de cada um dos renomados teólogos da época pós-Lutero, como Calvino, John Wesley, John Darby e tantos outros que deixaram um precioso legado no cristianismo. No inicio do século XX surge um grande renovar da fé através dos assembleianos, dando início aos movimentos pentecostais que ganharam força a partir das décadas de 60 e 70. Dois fatos importantes contribuíram para uma forte renovação carismática que ocorreu em 1967. Primeiro, a tomada de Jerusalém pelos judeus após ter estado quase dois mil anos nas mãos de outros povos. Depois, o Concílio Vaticano II, que foi um grande marco na renovação da fé católica. Um fato curioso é que o Movimento Judaico Messiânico renasce após a tomada de Jerusalém. Muitos judeus hippies americanos do movimento “Woodstock” no final da década de 60 foram alcançados pelas frentes evangelistas que atuaram no meio deste movimento hippie. Esses judeus que tiveram uma real experiência com o Messias Jesus, Yeshua, se vendo livres das drogas, começaram a questionar se sendo eles judeus deveriam abandonar a identidade judaica para se tornarem cristãos. Daí surgiriam grandes homens como Dr. David Stern, Russ Resnik, Ira Brawer e tantos outros que se juntaram a outros judeus crentes em Yeshua, começando a reunir-se em sinagogas denominadas messiânicas. Assim, nesses locais a identidade judaica seria preservada de acordo com a instrução apostólica do próprio Yeshua e seus discípulos, sobretudo, Paulo, que foram de fato os primeiros judeus messiânicos no primeiro século. Podemos dizer, então, que o ano de 1967 foi um grande marco na espiritualidade da fé judaico-cristã. Em seguida, denominações históricas como os batistas, presbiterianos, wesleyanos e outros experimentaram a renovação carismática, enfatizando os dons do Espírito Santo de D´us, criando suas próprias convenções nacionais. Posteriormente a este fato, surgem os movimentos neo-pentecostais nas suas centenas de ramificações, centrados exageradamente na mensagem da prosperidade e cura divina. Relembremos também que o movimento católico carismático ganha força nessa mesma década.
Enfim, a Reforma foi positiva e influenciou substancialmente a religião e a espiritualidade cristã. Também influenciou a política, a educação e o ambiente familiar, fortalecendo a família como uma instituição divina. Podemos, então, afirmar seguramente, que a Reforma protestante foi bênção para as nações.
Seu grande legado foi sem dúvida a salvação pela fé em Jesus Cristo, o único mediador e salvador da humanidade, através do arrependimento e perdão dos pecados e não somente por boas obras.
Um pouco sobre a biografia de Martin Luther
Ele nasceu em Eisleben, na Alemanha, no dia 10 de novembro de 1483 e faleceu em 18.2.1546. Foi padre católico Agostiniano. Sua discordância com o catolicismo inicial resultou na publicação de suas famosas 95 Teses em 1517, em um contexto de conflito aberto contra o vendedor de indulgências Johann Tetzel.
Á pedido do Papa Leão X em 1520 e do imperador Carlos V de Worms em 1521, a publicação de suas 95 teses resultou em sua excomunhão da Igreja Romana.
Sem dúvida alguma o “sola fide” (salvação só pela fé em Cristo) e o “sola Scriptura” (e só pelas Escrituras, a palavra revelada), Lutero iniciou um grande legado ao cristianismo, principalmente, traduzindo a bíblia em língua vernácula e, daí então, surgiriam várias outras versões em outras línguas. O fiel, assim, poderia ler a Palavra de D´us em sua própria língua, não dependo do incompreensível latim lido liturgicamente nas igrejas e, tão pouco, das interpretações unilaterais dos sacerdotes católicos. Foi um grande avanço!
Mas, é bom que se diga, Lutero entendeu apenas parte da verdade bíblica, trazendo consigo vários dogmas e interpretações errôneas, como por exemplo:
- A teologia da substituição (a Igreja gentílica substituiu e ocupou o lugar de Israel, do povo judeu no plano divino da redenção e D´us rejeitou o seu povo, considerado “assassino” de Cristo).
- A consequência foi o forte antissemitismo, uma vez que Lutero se tornou um ferrenho opositor ao povo judeu e veremos a seguir algumas de suas declarações.
- Lutero também não entendeu o contexto do Antigo Testamento, centralizando apenas nos livros do Novo Testamento, uma vez que considerava o AT não mais aplicável aos cristãos. Este fato gerou a herança de manter várias doutrinas católicas como, por exemplo, o batismo de crianças, o não entendimento das festas bíblicas, a guarda do domingo como dia do Senhor, a não compreensão do papel de Israel no contexto da redenção universal e dos princípios escatológicos em relação a Israel e ao mundo, etc. Até hoje, em mais de 90% das igrejas evangélicas tais doutrinas são ainda pregadas, faltando entendimento pleno entre a Graça e os princípios da Lei.
Consequências do antissemitismo de Lutero:
A opinião predominante entre os historiadores é que a sua retórica antijudaica contribuiu significativamente para o desenvolvimento do antissemitismo na Alemanha e na década de 1930 e 1940 auxiliou na fundamentação do idealismo do nazismo de ataques a judeus (Grunberger, Richard – The 12 years Reich… 1971).
Adolf Hither considerava Lutero como um dos grandes três ícones alemães, juntamente com Frederico, o grande e Richard Wagner em seu livro “Mein Kampf” (Minha Luta).
Vejamos, como exemplo, uma frase de Lutero: “A Alemanha deve ficar livre de judeus, aos quais após serem expulsos, devem ser despojados de todo dinheiro e joias, prata e ouro, e que fossem incendiadas suas sinagogas e escolas, suas casas derrubadas e destruídas (…), postos sob um telheiro ou estábulo como os ciganos (…), na miséria e no cativeiro assim que estes vermes venenosos se lamentassem de nós e se queixassem incessantemente a Deus”. Fonte: “Sobre os judeus e suas mentiras” de Martinho Lutero (Neumann, Behemoth, Studies in Philosophy and Social Science”. 1940.)
Qualquer pessoa que visita a cidade de Wittenberg onde Lutero viveu, pode encontrar ao lado da igreja luterana onde Lutero pregou nas portas seus sermões, a escultura abominável, discriminatória, desrespeitosa, desumana, bestial e inconcebível daqueles de quem veio toda a Bíblia, o povo judeu, e deles o Messias, o rabino judeu Yeshua Ben Yosef, mais conhecido no meio cristão como Jesus Cristo, que mudou o mundo.
Vejam a foto da escultura abaixo chamada de “Judensau” (judeus porcos):
Nesta foto veem-se judeus sendo amamentados por uma porca e o rabino segurando uma perna e o rabo da porca, ou seja, o traseiro do animal. Dispenso aqui qualquer comentário desta bestialidade humana.
Portanto, até agora, eu não vi na mídia nacional e internacional nenhuma menção a isto e tão menos nenhum pedido de perdão ou mesmo alguém propondo a retirada imediata desta satânica obra que ofende o povo judeu, a humanidade e ao próprio Criador de todas as coisas.
Se quiserem preservar o passado, que se arrependam urgentemente e façam algo que neutralize ou apague esta esdrúxula escultura que continua exposta publicamente e descaradamente.
O que os luteranos, o Governo alemão deveriam fazer neste glorioso momento de comemoração pelos 500 anos da Reforma?
De acordo com a Bíblia, eles deveriam:
1) PEDIR PERDÃO PUBLICAMENTE À D´US, AOS JUDEUS E AO GOVERNO DE ISRAEL PELAS ATITUDES E CONSEQUÊNCIAS ANTISSEMITAS NESSES 500 ANOS (não me refiro às atrocidades do Holocausto, mas a propagação do antissemitismo de Lutero);
2) A IGREJA LUTERANA E O GOVERNO ALEMÃO COM O APOIO DAS IGREJAS EVANGÉLICAS DEVERIAM FAZER ALGO PARA INDENIZAR E REPARAR ESSE ERRO HISTÓRICO DA REFORMA.
Pois, o pedido de perdão deve vir junto com o reparo do erro de acordo com a Torá, onde podemos ver o sacrifício pelo pecado e depois outro sacrifício pela culpa (consequência) do pecado. Embora Yeshua seja o nosso sacrifício vivo, esse princípio dos sacrifícios continua válido (Lv 6:24 a 7:7). Mesmo um crente em Yeshua tem seus pecados perdoados pela graça de D´us, mas a consequência do pecado fica, demandando um conserto, um reparo, uma indenização quando tal pecado prejudicou a terceiros.
Reforma ou Restauração?
Nossa humilde contribuição para o Corpo do Messias é não parar nos princípios da Reforma, mas continuar o caminho da salvação e da redenção universal, o Tikun Olam, que será completada com a volta gloriosa do Messias Yeshua.
Portanto, o tempo agora é de restauração, como dito em Atos 3: “…arrependei-vos, pois, e convertei-vos, para que sejam apagados os vossos pecados, de sorte que venham os tempos de refrigério, da presença do Senhor, e envie Ele o Cristo, que já dantes vos foi indicado, Jesus, ao qual convém que o céu receba até os tempos da restauração de todas as coisas, das quais D´us falou pela boca dos seus santos profetas, desde o princípio…D´us suscitou a seu Servo, e a vós primeiramente vo-lo enviou para que vos abençoasse, desviando-vos, a cada um, das vossas maldades.” (Atos 3:19-21;26).
Urge que toda a Igreja denominada cristã se arrependa urgentemente de seus terríveis erros históricos.
A Restauração não propõe consertar os erros da Reforma, mas voltar aos princípios vividos e proclamados por Yeshua e seus discípulos na Igreja do primeiro século. Ou seja, não há mais tempo para consertar, reparar, pois o mais rápido e eficiente seria voltar ao início de todas as coisas, ou seja, aos princípios vividos pelas comunidades (messiânicas/cristãs) no primeiro século. Para entender os propósitos e princípios da Restauração Plena que estamos pregando há 21 anos neste país, por favor, acessem nossos sites (vide abaixo).
O movimento da Restauração Plena do qual somos pioneiros no Brasil (e talvez até no mundo???), sem dúvida, teve inicio com o renascimento do Movimento Judaico Messiânico em 1967 nos EUA, segundo afirma o Dr. David Stern em seu livro “O manifesto”. (Dr. David Stern é membro da Congregação Roe Israel do Rabino Messiânico Joseph Shulam, o qual vem apregoando há mais de 40 anos a necessidade De a igreja voltar à atenção aos princípios bíblicos do primeiro século).
Em 1993 deu-se nosso primeiro encontro com Joseph Shulam em Israel. Ao tomar conhecimento de sua mensagem de restauração das raízes bíblicas e judaicas da fé, nós acrescentamos a essa visão, a restauração do Indivíduo (restauração da alma) que já vínhamos pregando desde 1987 e, a partir de 1990, criamos o Ministério Família Vida, pois cremos que indivíduos restaurados gerarão restauração em suas famílias. Após 1996, quando fundamos o Ministério Ensinando de Sião, acrescentamos à nossa visão a Restauração das raízes bíblicas e judaicas da fé, de tal forma que agora a Restauração estaria completa, plena, pois alcançaria o indivíduo, a família e, finalmente, a Igreja de Yeshua. Nós não damos ênfase à restauração ou conserto das Igrejas reformistas e nem temos tal pretensão. Nosso foco é restaurar pessoas em Cristo (indivíduos), a fim de que esses restaurem suas famílias e um conjunto de famílias restauradas produzirá finalmente uma igreja restaurada. Por sua vez, um conjunto de igrejas restauradas na plenitude do enxerto de Romanos 11, produzirá uma sociedade restaurada, consequentemente um possível país restaurado e até mesmo um mundo restaurado, apontando para a era milenar e do Reino de Yeshua HaMashiach.
A Base da Restauração do Ministério Ensinando de Sião e da Congregação Har Tzion é:
- Reconexão da Igreja a Israel e a seu povo. É preciso abolir de vez a “teologia da substituição”, dando o devido valor e contexto bíblico-profético de Israel e do povo judeu. D´us jamais rejeitou o povo judeu com quem celebrou um pacto eterno (Dt 29:12-15; Jr 31:31,33,35 e 36; Rm 11:1-2);
- É necessária a restauração de doutrinas, urgentemente, interligando e equilibrando princípios entre a Graça e a Lei no padrão de Yeshua e de seus discípulos, destacando principalmente os ensinamentos de Paulo (acessem nossos sites e saibam mais sobre a Graça e a Lei);
- É preciso que haja a restauração da identidade judaica profética, incluindo a restauração dos marranos (cristãos-novos sefaraditas) no caso do Brasil. Ou seja, o judeu messiânico precisa viver como judeu crente em Yeshua, pois este foi “re-enxertado” como dito em Romanos 11. No caso dos descendentes de judeus marranos ou também chamados de “Cristãos-Novos” esta restauração de sangue também se faz necessária, pois afinal, o chamado de D´us para o povo judeu é irrevogável (Rm 11:29). A aliança do Sinai é eterna com o povo judeu e seus descendentes (Dt 29:15);
- Os não-judeus (gentios) crentes em Yeshua não se tornam judeus ao frequentar uma sinagoga messiânica, mas são livres para expressar sua fé no contexto judaico de acordo com os exemplos bíblicos citados na igreja do primeiro século. Por exemplo, Paulo em Atos 18:4 “…Paulo discutia todos os sábados na sinagoga (em Corinto) e persuadia a judeus e gregos.” É natural que em Corinto havia mais gregos do que judeus e esses interessados também estavam nas sinagogas aprendendo a mensagem da Torá e dos evangelhos, segundo a doutrina dos apóstolos.
Finalmente, gostaria de dizer: – “O que tínhamos que extrair de bom da Reforma, já extraímos. Agora precisamos pensar na restauração da “Oliveira” que em Cristo enxerta o gentio e re-enxerta o judeu. Só há uma Igreja, aquela que é a família de D´us, judeus e gentios em Cristo, cada um vivendo sua identidade” (Ef 2:19).
Vivendo nesta perspectiva alcançaremos a restauração de todas as coisas (Atos 3:21) e contemplaremos a volta gloriosa de Yeshua e de seu reino messiânico.”
Parabéns aos pontos positivos da Reforma, mas viva a Restauração!!!
(*) Rabino Messiânico Marcelo M. Guimarães – Ordenado pelo Netivyah Bible Institute de Jerusalem-Israel e pela UMJC (Union of Messianic Jewish Congregation)-EUA. Fundador do Ministério Ensinando de Sião e da Congregação Har Tzion de Belo Horizonte.
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