A Divisão Judaico-Cristã | Ensinando de Sião

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A Divisão Judaico-Cristã

Porque os cristãos e os judeus devem superar equívocos mútuos em prol da reconciliação

Por Dan Calic

Um dos desafios que impedem a melhoria das relações entre cristãos e judeus é que ambos têm idéias equivocadas um a respeito do outro.

Por exemplo, um dos maiores equívocos é que a maioria dos judeus e dos cristãos pensa que Jesus abandonou o Judaísmo, a religião de Seu nascimento, a fim de iniciar o cristianismo. Ambos estão incorretos.

Os judeus têm sido fortemente afetados pela teologia da substituição, ao qual a maioria dos cristãos adere. Além disso, os judeus muitas vezes sentem que os cristãos os vêem principalmente como alvos de uma ‘conversão’, e que precisam deixar de ser judeus e abraçar o cristianismo.

No entanto, há um crescente número de cristãos que vêem as coisas de uma perspectiva diferente.

Estes “cristãos sionistas”, como são geralmente conhecidos, têm um verdadeiro amor pelo povo judeu. Eles reconhecem que Deus escolheu a Israel com o intuito de estabelecer uma relação com a humanidade.

O livro de Deuteronômio nos diz que Ele escolheu os judeus “de todos os povos na terra para seu próprio e único tesouro”. A Bíblia nos diz várias vezes que Deus estabeleceu uma “aliança eterna” com os judeus. No entanto, a maioria dos cristãos acredita que Deus rejeitou aos judeus quando Jesus não foi aceito por eles como Messias, substituindo-os pela “Igreja”.

Eu ainda não encontrei um cristão que pudesse mostrar um versículo na Bíblia onde diz que Deus rejeitou os judeus. Na verdade, a Bíblia indica exatamente o contrário. Romanos 11:1 diz: “Terá Deus, porventura, rejeitado o Seu povo? De modo algum!”

Então, onde é que originou a rejeição dos judeus como titulares da promessa da aliança de Deus?

Devemos sempre buscar a verdade, mesmo que acabe por ser contrário ao que temos sido ensinados. Se os cristãos fizessem isso, a percepção de que os judeus não foram substituídos pela “Igreja” seria apenas uma das várias coisas que podem surpreendê-los.

1900 anos de discriminação

Por exemplo, quantos cristãos sabem que o verdadeiro nome de Jesus é Yeshua ben Yosef? (Yeshua, filho de José). Quantos sabem que Ele nunca falou contra o judaísmo? Ele teve problemas com algumas “tradições” feitas por homens (dogmas), e alguns indivíduos em posições de autoridade. No entanto, ao contrário do que o cristianismo ensina, Ele permaneceu um judeu por toda a sua vida, e sempre ensinou a observância da Torá.

Seus ensinamentos nunca aconteceram em igrejas cristãs, aos domingos. Eles aconteciam em sinagogas judaicas no Shabbat. O fato é que não havia igrejas cristãs quando Ele vivia aqui. Os primeiros “cristãos” eram na verdade os judeus que O receberam como seu Messias. Eles adoravam nas sinagogas judaicas, juntamente com outros judeus.

Como mais gentios aceitaram Jesus como Messias, eles começaram a afastar-se da origem judaica do que veio a se tornar o “cristianismo”.

Eventualmente, Roma fez do cristianismo a sua religião oficial, e o afastamento da judaicidade de Jesus e de Seus primeiros seguidores criou raízes. Conforme o tempo passava, o sentimento anti-judaico cresceu dentro da “Igreja”. A imagem de Jesus foi completamente mudada do que, sem dúvida, era uma aparência do Oriente Médio, para um anglo pálido esfolado com uma auréola sobre a cabeça e uma cruz  em seu pescoço.

Em essência, o cristianismo sequestrou o que Jesus era, o que Ele ensinou, formando a sua própria imagem e teologia “não judaica”. Esta mudança e sentimento anti-judaico permeou a maioria do cristianismo e permanece até hoje.

Depois de suportar 1900 anos de discriminação, perseguições, conversão forçada, exílio e assassinatos, pode alguém culpar os judeus por serem hesitantes sobre como entrar em relações com os cristãos, ou confiar neles? Os evangélicos deveriam entender porque os judeus resistem se converterem à religião que foi a mais responsável pelos seus maus tratos do que qualquer outra.

No entanto, por mais difícil que possa ser para alguns judeus aceitarem, há cristãos que expressam o amor sincero por Israel reconhecendo-o como “tesouro único” de Deus. Acredito que os judeus deveriam empenhar-se ativamente em abraçar esses cristãos. Eles professaram sua determinação de ficar com Israel e o povo judeu. Isto é especialmente importante durante estes tempos turbulentos, quando o Egito e outros países árabes tornaram-se cada vez mais hostis para com Israel e o Ocidente, seguindo a “primavera árabe”.

Se os cristãos desejam promover a confiança, eles poderiam pensar em fazer pelo menos duas coisas. Em primeiro lugar, oferecer arrependimento genuíno pelo que o cristianismo fez ao povo judeu ao longo da história. Isso ajudará a reduzir a tensão e aumentará a reconciliação. A segunda sugestão é amar e apreciar o povo judeu por quem eles são. Reconhecer que através deles temos a relação de Deus com a humanidade, a Torá, os 10 Mandamentos, as festas, e assim por diante.

Se os cristãos expressarem um amor genuíno (sem pretenderem simplesmente e unilateralmente a conversão de judeus), isto seria um excelente ponto de partida para os judeus e os cristãos verem um ao outro sob uma luz mais conciliatória e de apoio mútuo. Sob tais condições, os judeus e os cristãos podem desfazer séculos de equívocos, construindo uma forte aliança contra inimigos comuns.

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Publicado no ynetnews.com  em 24/05/12

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