A Torá e a escolha dos representantes do povo
Estamos em época de eleição. Precisamos, como cristãos, saber fazer bom uso de nosso voto para escolher bem nossos representantes. O que a Bíblia fala sobre isto?
Há alguma recomendação? Qual?
Os princípios da Torá estão ainda vivos. Afinal, o Pentateuco foi inspirado por Deus, escrito muitas vezes pelo próprio “dedo” Dele. Não podemos tratar a Torá, que quer dizer em hebraico, instrução, ensino, Palavra (de Deus) como algo inútil colocado num denominado “Velho” Testamento pelos pais da Igreja Cristã no século IV que já haviam abandonado quase todos os santos ensinamentos da Torá. Hoje, nós que estamos na Graça salvadora do nosso Messias Yeshua (Jesus), não podemos desprezar os princípios sábios da Torá que existem para nos proporcionar qualidade de fé, de vida e, sobretudo, para nos auxiliar no processo de restauração de nossa própria alma. “A Torá (Lei) é perfeita e restaura a nossa alma”, já dizia o salmista (Sl 19:7).
Moisés estava em pleno deserto guiando o povo rumo à terra prometida de Canaã. Havia mais de três milhões de peregrinos. Problemas de todas as mais variadas espécies aconteciam. Por causa disso, Moisés estava deprimido, exausto e sem saber o que fazer frente a tantas dificuldades. Foi, então, que Deus usou seu sogro Jetro para lhe aconselhar que deveria procurar dentre o povo homens (chefes) com as seguintes características:
1- Homens de Capacidade
2- Tementes a Deus
3- Verazes
4- que não aceitam Propinas (ou suborno, ou avarentos em algumas traduções).
Estas primeiras quatro qualidades estão registradas no livro de Êxodo 18:21.
Se fizermos uma “Midrash” (investigação ou correlação com outros textos bíblicos) vamos encontrar uma outra passagem da Torá, como por exemplo, no livro de Deuteronômio (1:13), no qual Deus reitera a Moisés que ele não poderia carregar o peso e as cargas do povo sozinho e determina que escolhesse alguns representantes das tribos que possuissem as seguintes qualidades:
5- Homens Sábios
6- Entendidos
7- Experimentados.
Assim, através desta “midrash”, podemos conhecer as sete qualidades mínimas que um líder representante do povo deveria possuir segundo a instrução divina.
Estas qualidades são tão simples, diretas e óbvias que nem necessitam de qualquer explicação. Mas, mesmo assim, faz-se necessário um pequeno esclarecimento, uma vez que nem todos estão familiarizados com o contexto judaico das Escrituras.
Nossos representantes, quer sejam o presidente da nação, os senadores, deputados federais ou estaduais, governadores e até mesmo prefeitos e vereadores deveriam passar por este crivo, pressupondo que é dever dos bons cristãos conhecerem bem e praticarem a Palavra de Deus.
Deus inicia citando uma primeira característica primordial de um líder: a capacidade. Este termo indica que o líder deve ter potencial, ou seja, ser portador de dons e talentos, além de possuir uma inteligência natural e superior se destacando dos demais. Não se trata de escolaridade, mas de capacitação. É evidente que nos tornamos mais capazes à medida que estudamos, trabalhamos e desenvolvemos nosso potencial com destreza e experiências adquiridas no dia-a-dia.
Se considerarmos duas pessoas dotadas de potenciais semelhantes, é óbvio que aquele que passou mais tempo nos bancos escolares, colocou em prática todo o seu aprendizado, terá melhores condições do que aquele que recebeu pouca educação e permaneceu semi-alfabetizado. É claro, que Deus não tomou esta característica isolada, pois, principalmente, as qualidades morais também determinarão os profícuos resultados de uma liderança eficaz.
A segunda característica é que o governante precisa ser temente a Deus. No sentido da Torá isto significa conhecer os princípios da lei do próprio Deus, da Sua Palavra, ouvindo-as, compreendendo-as, seguindo-as e colocando-as em prática. Ser temente não é só ter fé em Deus, mas, sobretudo, é amar, confiar e cumprir os mandamentos, os estatutos e as ordenanças divinas e, crendo que cada um de nós prestará conta a Deus.
Terceiro: nossos representantes devem apresentar e ter compromisso com a verdade. Mas, o que é a verdade? Verdade é a Palavra de Deus e do seu Filho, Yeshua, que é o caminho, a verdade e a vida (Jo14:6). Os princípios morais e éticos dos mandamentos de Deus se traduzem também em verdade. Os princípios e conceitos humanos precisam estar em conformidade com essa Palavra Divina, caso contrário, não teremos a verdade, mas outro conceito virtual, opaco, desvirtuado, desequilibrado e injusto. Seria a própria mentira e engano. Além do mais, a verdade anda junto com a justiça, assim como a misericórdia anda junto com o juízo, dizia o Rei Davi. Nos dias atuais se perdeu o conceito do que é verdadeiro e a mentira passou a ser sinônimo da “verdade”, então, estamos todos no caos e no mais profundo engano.
Quarto: com permissão de meus leitores, a nossa escolha agora fica mais difícil,pois Deus pede para que os representantes do povo não recebam propinas, dinheiros, benefícios decorrentes de cargo ou da posição que se ocupa, e aqui se inclui os vergonhosos “mensalões”, os dólares “voadores” sem origem conhecida, mas com destino certo, as ambulâncias que foram vendidas por fantasmas, pois não se achou nelas o “sangue” dos sanguessugas, etc. Onde há propinas, há corrupção!
Quinto: deve-se perceber que tais características não são excludentes, mas se acumulam na pessoa que irá nos representar em poder e gestão. Deus agora requer que tal representante passe pelo crivo da sabedoria.
Sabedoria não se aprende em faculdade. Sabedoria é um atributo divino. Ela vem e é dada pelo temor ao Senhor Deus. Por isso, pai e filho, ambos reis de Israel disseram: “O Temor ao Senhor é o princípio da Sabedoria” ( Pv 1:7 e Sl 111:10).
Sexto: o entendimento é uma das importantes qualidades de um governante. Entender não é o mesmo que conhecer. A Torá nos ensina que primeiro devemos ouvir e depois conhecer a Palavra, a verdade, o princípio. Depois, vamos para um terceiro estágio, o do entendimento. São palavras cujas raízes são diferentes e por isso, com significados também distintos. Por exemplo, um médico pode conhecer a doença e não entender as causas desta doença. Um governante pode conhecer conceitos políticos, mas não entender como funciona a “máquina” político-administrativa. O entendimento envolve o conhecimento em profundidade da origem e razão das coisas e fatos.
Finalmente, Deus requer mais um atributo do líder: ser experimentado. Ter experiência é ter “know-how”, é saber fazer. A experiência segundo a Palavra de Deus ( Rm 5:3-4) só vem pela vivência através das dificuldades, porém de modo perseverante. Ou seja, os problemas precisam vir para nos ensinar e nos proporcionar oportunidade de praticarmos nossos conhecimentos em busca de soluções. Por sua vez, diz o apóstolo Paulo, esta tribulação ou provação frente às situações difíceis exigem perseverança ou persistência em combater tais adversidades. Se assim feito, haverá como resultado desta atitude, a experiência, o saber fazer, o saber resolver.
Isso é tão claro, mas nem sempre é de fácil observância. Um bom advogado será aquele que trabalhou com os difíceis e complicados processos. Assim, acontece com qualquer outro profissional ou até mesmo com um sacerdote que alcançará experiência através de seus problemas diários com seu rebanho.
Agora, você pode estar se perguntando: – se todos esses atributos são necessários a um líder e bom governante, então, eu não posso votar em ninguém que conheço…
Sem dúvida, Deus é fiel e exigente com seus líderes, pois, na mente divina, não há autoridade na terra que do céu não seja concedida. Ou seja, Deus quer abençoar a autoridade por ele estabelecida. Por isso, Deus conhecedor de nossas causas, limitações e dificuldades nos pede que oremos pelos nossos governantes e líderes ( Rm 13:1 e ITm 2:1-2).
Votar em branco ou anular o voto como sinal de protesto em nada contribuirá para a escolha de um representante, pois tais votos não serão considerados válidos.
Uma sugestão é procurarmos ver em nossos representantes aquele que mais apresenta tais atributos divinos. Com certeza, esta será nossa melhor escolha.
Oremos para que Deus nos capacite a escolher aqueles que melhor nos representarão e exercerão autoridade sobre nós e sobre nossa nação.