Evangelizando a si mesmo | Ensinando de Sião

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Evangelizando a si mesmo

Um tempo que me agrada muito é o período que vai da festa de Pessach (Páscoa) até Shavuot (Pentecostes) que normalmente cai no outono, no Brasil. São 7 semanas, 49 dias claros e de céu azul, temperatura fresca e convidativa, quando fazemos, segundo a instrução divina, a contagem do “Sefirat HaOmer”, ou seja, a Contagem dos  Omer (um tipo de medida agrícola), uma oferenda  de cevada recém-colhida no tempo bíblico.

São dias de grande reflexão espiritual. Um tempo que nos esforçamos, abrindo nosso coração para o Ruach HaKodesh, o Espírito Santo de D´us, buscando uma intimidade maior com Ele neste tempo de preparação para a celebração de Shavuot, a festa de recebimento da Torá.

Lembremo-nos que em Pessach, comemoramos a libertação do povo judeu da escravidão no Egito. Porém, a liberdade física não é um fim em si, mas sim um meio para um fim maior. Afinal, de que valeria ser livre (de um sistema) se na verdade não alcançamos a liberdade interior? Por isso, nessa época, costumo enfatizar a cada sábado em minhas ministrações, lembrando que não basta ser livre do pecado, da escravidão, das coisas do mundo, mas precisamos  ser liberto delas. Ou seja, não basta deixar o pecado ou o jugo físico no qual outrora vivíamos, mas é necessário que todas aquelas lembranças e paixões que nos escravizavam não nos tragam e nem exerçam mais nenhum tipo de prisão em nossa “psiqué” (mundo das emoções). Uma emancipação espiritual precisa acontecer.Tudo isto neste tempo de 49 dias, um tempo de preparação espiritual para o recebimento da Torá, a Instrução Divina, a Palavra, o Verbo, o Logos de D´us que foi entregue ao povo judeu no Monte Sinai na festa de Shavuot. Em outras palavras, o Êxodo marcou o nascimento do povo judeu como povo, enquanto a revelação no Sinai forneceu ao povo recém-nascido a substância moral e ética que o sustentaria através dos tempos. Segundo os princípios judaicos, o Sefirat HaOmer, a contagem de sete semanas entre os dois feriados, nos lembra simbolicamente,  o que importa não é só  libertar-se DE alguma coisa, mas libertar-se PARA alguma coisa. A liberdade não teria sentido se não viesse acompanhada do compromisso para com um ideal, uma meta, uma proposta de vida. Se não há lei e obediência, disciplina, deveres e obrigações, a liberdade se transforma em libertinagem, anarquia e a graça em desgraça. Portanto, conhecer e experimentar a graça da salvação messiânica, receber o perdão dos pecados, deixando o sistema de escravidão do mundo é  só o primeiro passo que damos após nossa decisão de seguir Yeshua.

O crente em Yeshua (Jesus), conhecido como salvo ou convertido, seja cristão ou judeu  messiânico só experimentará as benesses da Graça divina se for obediente e disciplinado aos mandamentos, estatutos e ordenanças dadas pelo próprio D´us Eterno no Monte Sinai e vividas e proclamadas pelo Messias.

Assim, o significado religioso do Omer é preparar-se espiritualmente para assumir condignamente a liberdade interior conquistada, quando nos sentimos livres do peso do pecado, voltamo-nos para o nosso interior, libertando-nos das prisões da alma, da mente oriundas daquele tempo em que vivíamos desatentos aos princípios morais e divinos, ao sabor e das paixões da carne, do pecado e  alheios a vontade de D´us.

Para nós, seguidores de Yeshua, que passamos pelo “novo-nascimento”(Jo3:3) espiritual por meio Daquele que tira o pecado do mundo (Jo 1:29); Aquele que se fez maldição em nosso lugar, levando sobre Si naquele madeiro todas nossas iniqüidades, enfermidades, nosso jugo da natureza do pecado e da condenação eterna, resta-nos perguntar sinceramente:-  tomamos posse de tudo isto ou  resta algo ainda que nos impede esta perfeição  e semelhança com Cristo? – A real resposta é: – nascemos de novo em Espírito, mas nossa alma, nossa mente, nossas emoções e lembranças precisam ser restauradas ao longo da vida. Por isso, este tempo de preparação de Shavuot é de suma importância para nós. Pois é uma oportunidade na qual  limpamos as amarras interiores para o grande dia do recebimento da Torá direto das mãos do Criador. Pelo menos a cada ano, temos a graça de meditarmos nessa libertação do eu interior.

Conquistar nossa liberdade interior e saber usá-la é uma etapa das mais difíceis de nosso processo de salvação em Yeshua. Daí, cheguei a necessidade de “evangelizar” a si mesmo num processo constante até que alcancemos a estatura do Varão Perfeito, Yeshua ( Ef4:13).

A  palavra Evangelho significa em hebraico “Besorá (hrvb) , vem da raiz do verbo “basar” (rvb), dando o sentido de tornar algo público, dar Boas Notícias, pregar, mostrar novidade de vida. Também “basar” pode se referir ao corpo e a alma, o coração. A palavra evangelho, sinônimo de “Boas Novas” aparece mais de 16 vezes no Antigo Testamento, sendo sete vezes só no profeta Isaías, sem sendo uma exclusividade do Novo Testamento.

Mas, o que seria essa “Boa Notícia”? muito amplo e profundo! Em resumo, para o homem pecador, morto espiritualmente, separado de D´us, há um Redentor, um Remidor, um “Goel”, (Resgatador) que tira o homem desta prisão, da morte, herança adâmica tanto espiritual como  física. Ele se chama Yeshua, o Filho de D´us…”porque está escrito que D´us amou o mundo (humanidade) de tal maneira que deu Seu  Filho unigênito, para que todo aquele que Nele crê não pereça, mas tenha a vida eterna.”(Jo3:16).

Muita gente tem um entendimento incompleto deste versículo. Pregam simplesmente que há um céu e uma eternidade para todo aquele que crê em Yeshua. Sem dúvida que é verdade, mas é muito mais do que isto. Receber Yeshua, crer Nele, ser seu seguidor e dar TESTEMUNHO Dele nos levará a ter a natureza igual a Dele. D´us criou o homem à sua imagem e semelhança, mas o pecado tirou esta imagem e esta semelhança. O homem pós-Éden se desvirtuou traçando seu próprio caminho, afastando-se do “ser bênção”, dando lugar a inúmeras maldições, vivendo sem a essência divina, o Espírito Dele em nós. O grande segredo é entender uma logística divina, ou seja, se por um homem só entrou o pecado, e com este a morte, por um outro só também vencemos a morte e encontramos a ressurreição, a vida eterna ( Rm5:12-21; I Co 15:21).

Ser seguidor e dar testemunho de Yeshua não é apenas pregar o céu, o paraíso, mas sobretudo, ser aperfeiçoado Nele, ter nossa natureza restaurada Nele, ser como Ele. Isto é um processo que requer tanto a Graça de D´us como o conhecimento dos nossos limites, a Torá, as leis de Adonai. Yeshua foi seguidor fiel da Torá e não se afastou dela, não a anulando e nem a revogando, pelo contrário, viveu como um perfeito judeu, zeloso das coisas de Seu Pai.

Da mesma forma, se somos seguidores de Yeshua, vivendo pela Sua copiosa redenção, sendo seus imitadores, então, não há como viver pela graça sem ser obediente aos princípios da Torá. Isto é Pentecoste! Estando os discípulos de Yeshua reunidos no Cenáculo em Jerusalem, celebrando a festa de Shavuot (Pentecostes) sobreveio a eles o derramar do Espírito Santo sob a forma de línguas de fogo. Tornaram-se, então, habilitados, intrépidos, destemidos para anunciar as “Boas Novas”, o Evangelho, que na verdade se resume desde Gênesis a Apocalipse, a Bíblia, o livro das Boas Novas. Como então os apóstolos poderiam anunciar as Boas Novas se eles não estivem convencidos dela? Como poderiam anunciar o poder da manifestação do Espírito Santo se não tivessem experimentado tal manifestação? Naquele momento em que todos os apóstolos estavam reunidos no Cenáculo, celebrando o Recebimento da Torá, veio sobre eles o batismo do Espírito Santo. Para nós, messiânicos, então, a celebração de Shavuot só tem sentido para nós se ela vier plena da manifestação do Espírito Santo, nos presenteando com dons e ministérios PARA  servir aos santos.

Portanto, neste processo de salvação, de restauração , de santificação, não podemos descuidar das prisões de nossa alma. A natureza do pecado saiu quando nascemos espiritualmente de novo, mas nossa alma (mente) não se converte de imediato, mas se converge lenta e paulatinamente pelo por poder da Palavra (Torá) em nós.

O Evangelizar a si mesmo é ver as coisas com os olhos de Yeshua. Assim como aquela prostituta que estava sendo apedrejada pela multidão. Yeshua não a viu com o rótulo de uma prostituta, mas Ele a viu com o Seu coração misericordioso, perdoador e libertador.

Evangelizar a si mesmo é ver as coisas sob o prisma Dele, acima dos dogmas, credos e ritos das religiões dos homens, usando os olhos do coração.

Evangelizar a si mesmo é tomar posse de todos os frutos do Espírito, não satisfazendo as obras da carne. É ter domínio, é ser realmente livre e liberto das prisões da alma, dos pensamentos obtusos e desalinhados com a justiça divina.

Evangelizar a si mesmo é ser livre para perdoar incondicionalmente, com um coração cheio da graça e da misericórdia de D´us.

Evangelizar a si mesmo é viver na Paz e na Santidade Dele, ou seja, é vê-Lo, é sentir constantemente a presença Dele, pois nos apropriamos a cada dia da Sua Natureza, da Sua Essência e  do Seu Amor.

Evangelizar a si mesmo não é pregar aos outros o que se sabe sobre as “Boas Novas”, mas mostrar, testemunhar as verdades do Reino do Messias Yeshua.

Evangelizar a si mesmo é entrar no silêncio da Verdade Suprema, ouvindo a Voz do Espírito, se libertando dia após dia para melhor servir.

Evangelizar a si mesmo é ser potencialmente livre para se fazer de tudo, porém na sabedoria de usar da mesma  liberdade para separar e excluir aquilo que  não nos convém,  exercendo domínio da mente e do modo de agir ( I Co 6:12).

Evangelizar a si mesmo é não desfalecer mesmo quando nosso homem exterior esteja se corrompendo, porque o interior, contudo, se renova de dia em dia ( II Co 4: 16).

Evangelizar a si mesmo é se esvaziar de si, do que fomos, do que somos e do que seremos para que a Glória Dele se manisfeste em nós.

Evangelizar a si mesmo, é amar a si mesmo, cuidar de si, sendo zeloso com o “Templo” onde habita o Espírito Santo ( I co 6:19), que nos guia, consola e nos exorta.

Evangelizar a si mesmo é viver no contínuo amor à D´us, amando e servindo o próximo. Jamais conseguiremos este altíssimo nível das Boas Novas se não estivermos Nele, recebendo Dele para dar Dele.

Evangelizar a si mesmo é procurar com zelo os melhores dons como operadores de milagres, de cura, socorros, governos, variedade e interpretação de línguas, palavra de sabedoria, palavra de conhecimento, o dom da fé, de profecia, discernimento de espíritos e tantos outros. Evangelizar a si é receber ministérios para servir, como o de apóstolos, profetas, evangelistas, pastores e mestre (I co 12 e Ef 4).

Oremos que D´us no dê a graça de evangelizarmos nós mesmos, a fim de que, o nosso “Ide” fale por si mesmo, por meio de nosso testemunho e por nossa vida. Agindo assim, estaremos chegando mais perto do verdadeiro Evangelho, da “Besorá” do Messias que em breve voltará.

Maran atá! Seja breve Sua Vinda!

Autor:

Rabino messiânico ordenado pelo Netivyah Bible Instruction Ministry – Jerusalem-Israel. Fundador do Ministério Ensinando de Sião e da Congregação Har Tzion em Belo Horizonte.

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