Se o meu povo… | Ensinando de Sião

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Se o meu povo…

 

Por Matheus Zandona Guimarães

 

Existe apenas um lugar no planeta Terra onde o Senhor D-us, criador dos céus e da Terra, escolheu para Sua habitação. Existe apenas um lugar onde o próprio D-us prometeu que ouviria o clamor e a oração que ali se elevasse. Existe apenas um lugar para o qual o Messias retornará e estabelecerá Seu reino milenar. Este local é na verdade um pequeno monte, chamado em hebraico de “Har Moriá” – Monte Moriá, que desde os primórdios da existência humana despertou a admiração e a espiritualidade de povos de numerosas nações. Desde os dias do Rei Salomão, o Monte Moriá faz parte de uma das cidades mais antigas da civilização humana. Uma cidade cuja origem ainda é incerta para arqueólogos e historiadores, mas cujo futuro reserva grandes profecias para toda a humanidade: A cidade da Paz, ou em hebraico, Yerushaláim (Jerusalém).

 

Importante é frisarmos aqui que Jerusalém e o Monte Moriá só podem cumprir seus propósitos como locais de adoração e de habitação do Criador quando o povo judeu, para quem D-us deu a posse eterna da região mencionada (Gn 13:14-16), estivesse não apenas de posse das terras de Israel como também livre de toda idolatria e paganismo. Só assim Israel pode cumprir seu propósito de ser LUZ para as Nações. As conseqüências da idolatria e da desobediência de Israel sempre foram bem conhecidas pelo povo judeu. A Torá declara que se Israel se desviasse dos caminhos do Senhor, Ele mesmo enviaria pragas e calamidades, usaria nações inimigas para assolar e trazer Seu juízo e até mesmo impediria que a tão aguardada chuva caísse sobre a terra (Dt 29:18-29).

Mas o que tudo isso tem haver com Jerusalém e o Monte Moriá? Vejamos a seguinte passagem:

 

“E o SENHOR apareceu de noite a Salomão, e disse-lhe: Ouvi a tua oração, e escolhi para mim este lugar para casa de sacrifício. Se eu fechar os céus, e não houver chuva; ou se ordenar aos gafanhotos que consumam a terra; ou se enviar a peste entre o meu povo; E se o meu povo, que se chama pelo meu nome, se humilhar, e orar, e buscar a minha face e se converter dos seus maus caminhos, então eu ouvirei dos céus, e perdoarei os seus pecados, e sararei a sua terra. Agora estarão abertos os meus olhos e atentos os meus ouvidos à oração deste lugar. Porque agora escolhi e santifiquei esta casa, para que o meu nome esteja nela perpetuamente; e nela estarão fixos os meus olhos e o meu coração todos os dias.” (IICr 7:12-16)

 

Quão tremendo é o texto acima! D-us promete ao povo judeu que Seus olhos e ouvidos estariam ETERNAMENTE abertos ao clamor e à súplica de arrependimento que se fizessem em Jerusalém. Mesmo em tempos de terríveis juízos sobre Israel, D-us declara que estaria pronto a mudar a sorte do Seu povo, caso este se arrependesse e clamasse a Ele na cidade por D-us escolhida. Muitos cristãos tendem a descontextualizar o texto acima, declarando que tal promessa não tem nada haver com Israel ou com o povo judeu, nem muito menos com a cidade e o local mencionados. “Esta é uma promessa para a Igreja”, dizem alguns. É claro que o princípio de clamor, arrependimento e mudança são aplicáveis a todos os povos e em qualquer lugar do planeta, mas não podemos distorcer as palavras de D-us a Salomão menosprezando o papel do povo judeu e da cidade de Jerusalém na passagem acima citada.

 

Uma das partes menos compreendidas pela Igreja sobre a profecia em questão é o fato de D-us declarar: “… se o Meu povo, que se chama pelo MEU NOME”. O que isso realmente significa? Se atentarmos para alguns detalhes veremos que a frase acima é na verdade uma grande declaração de amor e fidelidade de D-us para o povo judeu. Primeiramente temos que ter em mente que o “nome” ao qual D-us se refere é o nome pelo qual Ele se revelou ao povo judeu, composto de quatro consoantes: YHVH – iud, hei, vav, hei (YHVH), conforme Ex 6:3. Mas porque D-us afirma que o povo judeu possui o Seu nome? Vejamos como é a escrita da palavra “Judá” (de onde deriva o termo “judeu”), em hebraico: (Yehudá). Qualquer pessoa, mesmo sem conhecimento de hebraico, pode notar que o “nome” de D-us e a palavra “Judá” (ou judeu) são iguais, com exceção da letra dálet “d”. Ora, podemos claramente ver que D-us colocou literalmente o Seu nome (YHVH) no Seu povo (o povo judeu). Por isso Ele diz: “…que se chama pelo meu nome…”, ou “…que é chamado pelo meu nome…”.  É como se a palavra Judá fosse o nome de D-us acrescido da letra dálet.

 

Mas porque a letra dálet? Alguns rabinos dizem que a letra dálet vem da palavra “DAVID” (Davi), que tanto pode significar o Rei David e sua linhagem real Eterna (IISm 7:16), como também o Messias, o qual é também chamado de “Filho de Davi” (na verdade a expressão “filho de David” significa “descendente de Davi”, e não necessariamente “filho”. Ver: IICr 11:18, Mt 1:1, Mt 1:20, etc).  Ou seja, o povo judeu representa a presença de D-us (YHVH), mas apenas através do Messias Yeshua, o Filho de Davi, Israel poderá cumprir o seu papel de fazer o nome do Senhor conhecido entre as nações.  Outros dizem que a letra dálet na palavra “Yehudá” significa “délet”, ou seja, PORTA, em hebraico. O Messias Yeshua certa vez declarou: “Eu sou a porta (délet); se alguém entrar por mim, salvar-se-á (…)” (Jo 10:9). Portanto, podemos dizer que Yeshua é a “porta” através da qual o judeu (e todos os outros povos) conhecerão ao Senhor (YHVH), alcançando a salvação.

 

Assim, vemos o Eterno prometendo ao rei Salomão que Seus olhos e ouvidos estariam para sempre atentos à oração de arrependimento que o Seu povo (povo judeu) fizesse na cidade de Jerusalém, especificamente no monte Moriá, ou monte do Templo. Agora podemos entender claramente que a presença judaica em Jerusalém faz com que o Nome do Senhor também esteja em Jerusalém, pois segundo os textos estudados o povo judeu carrega consigo o nome de D-us, mesmo não estando em obediência aos estatutos e aos mandamentos da Torá (por isso, o judeu quando vive em má conduta em Israel ou em outras nações, profana o nome do Senhor – Ez 20:14).

 

 

Muitos teólogos têm dificuldades de entender este princípio. Como dissemos anteriormente, apenas com o Messias Yeshua os judeus podem cumprir seu principal propósito de serem Luz e exemplos para as nações. Tal propósito será cumprido quando os filhos de Israel testemunharem às nações os princípios e os mandamentos da Torá (Lei do Senhor), e isto só será possível através de Yeshua (Is 11:10-12). Além disso, não há outro caminho para a salvação do judeu, fora do Messias. Mas o judeu, ainda que não creia em D-us, carrega em seu sangue e em sua história o nome e o Testemunho de D-us. Ele pode até não crer em D-us e viver sua vida como bem entender, mas seu sangue e seus antepassados testificam ao mundo a aliança Eterna de D-us com Abraão, o primeiro judeu. Por isso o judeu, pelo simples fato de ser judeu, tem em si uma responsabilidade única, creia ele em D-us ou não. Não estamos falando aqui sobre salvação ou vida eterna, mas sim esclarecendo aos leitores que D-us usa o Seu povo para cumprir os Seus propósitos mesmo quando este desconhece ou ignora as profecias. Poucos entendem que a Aliança que D-us fez com Abraão foi uma aliança UNILATERAL, ou seja, o judeu não deixa de ser judeu por não crer ou não entender seu relacionamento com o Criador. Ele continua sendo parte do povo escolhido e objeto de inúmeras profecias.

 

Como exemplo, podemos citar o re-estabelecimento do Estado de Israel depois de 2000 anos de diáspora. Estadistas como Theodor Hertzl, Shimon Peres, Itzchak Rabin, dentre outros, foram peças fundamentais para a realização do sonho de se ter novamente um Estado judeu. Sem a atuação e o trabalho árduo destes homens, os judeus estariam provavelmente ainda na diáspora. Mas o fato é que nenhum deles sequer cria na existência de D-us ou na veracidade das escrituras. Todos eram ateus. Por acaso o fato de serem ateus impediu com que D-us os usasse para cumprir as profecias anunciadas por Isaías, Jeremias e Ezequiel, onde o povo judeu habitaria novamente a terra de Canaã, depois de séculos de desolação? A resposta é NÃO. Estes homens foram tremendamente usados pelo Eterno, e com certeza não fizeram a mínima idéia do que seus esforços representariam no campo espiritual.

 

Dessa forma, a soberania do povo judeu sobre Israel e sobre Jerusalém é de fundamental importância para o cumprimento das profecias e para o re-estabelecimento do Nome do Senhor na terra prometida. Mesmo distantes dos caminhos do Senhor, os judeus quando retornam à Terra de Israel estão participando do maravilhoso cumprimento das promessas do final dos tempos. A cada judeu que regressa, o nome do Senhor é novamente estabelecido em Israel, mesmo que tal estabelecimento venha a trazer juízo sobre seus habitantes (lembremo-nos que os judeus carregam consigo o Nome do Senhor, mesmo desconhecendo tal fato).

 

O mais importante é que o retorno dos Judeus a Israel representa apenas a primeira parte do cumprimento das profecias. Sim! D-us declara que logo após o seu regresso, Ele mesmo colocaria neles um novo Espírito, e lhes imprimiria no coração as Suas leis, para que possam cumprir o seu chamado como Nação escolhida, nação de sacerdotes (Jr 31:27-37). Ora, sabemos que tais palavras representam a aceitação do Messias Yeshua por parte do povo Judeu. Portanto, a Igreja deve orar e apoiar o regresso de todo judeu a Israel (incluindo o retorno dos judeus que terão sua judaicidade restaurada, tal como os “marranos” na América Latina, os “falashim” na Etiópia, os “Filhos de Manassé” no interior da Índia e outros que ainda serão descobertos) bem como apoiar a necessidade da soberania do povo judeu sobre a Terra de Israel.

 

Assim, as condições para o retorno do Messias serão cumpridas, pois Ele mesmo declarou que só regressaria a Jerusalém quando os judeus no monte do templo o recebessem com louvor, dizendo: “Baruch Há Ba Be Shem Adonai” – Bendito é o que vem (o Messias) em Nome do Senhor! (Mt 23:39).  Oremos para que o povo, que se chama pelo nome de D-us, se humilhe em oração e busque a face do Criador, deixando para trás toda idolatria e incredulidade, para que o mundo veja a Terra de Israel restaurada e os judeus recebendo ao seu Messias como o Rei dos Reis, Yeshua Há Mashiach.

Autor:

Matheus Zandona Guimarães é descendente de Judeus com origem na Itália e em Portugal. Graduado em Comunicação Social, estudou teologia com ênfase em Estudos Judaicos nos EUA e Hebraico e Cultura Judaica em Jerusalém - Israel. É o atual presidente do Ministério Ensinando de Sião e rabino da Sinagoga Har Tzion em Belo Horizonte. É diretor internacional do Netivyah Bible Instruction Ministry (ISRAEL) e diretor regional da UMJC (Union of Messianic Jewish Congregations) - EUA. Matheus é casado com Tatiane e tem dois lindos filhos, Daniel e Benjamin. (facebook.com/mzandonna, @matheus.zandonna)

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