Tishá be Av – Lamento e Arrependimento | Ensinando de Sião

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Tishá be Av – Lamento e Arrependimento

“Chorarei eu no quinto mês, fazendo abstinência, como tenho feito por tantos anos?” – Zc 7:3

Tishá be Áv (dia 9 do mês de Av) é o segundo jejum mais importante do calendário judaico. Neste dia, jejuamos e lamentamos por vários eventos que trouxeram calamidade para o nosso povo, que por coincidência ou não, ocorreram todos no mesmo dia, no 9° dia de Av. Geralmente este dia cai no início do mês de AGOSTO, no calendário gregoriano. Vemos em algumas referências da Tanách (como Zc 7:3), que neste dia já era costume o jejum e o lamento. Também o Talmud (Taanit 29a) e a Mishná (Taanit 4:6), fazem referência ao Tishá be Áv.  Lamentamos e nos lembramos dos seguintes eventos que ocorreram neste dia:

– O relatório catastrófico dos espias enviados por Moisés além do Jordão (que fez com que D-us punisse o povo com a proibição da entrada em Canaã) – Nm 13;

– A Destruição do 1° e do 2° Templos em Jerusalém (586 a.C e 70 d.C)

– A derrota da revolta de Bar Kochba e a destruição de Jerusalém (135 d.C)

– O Decreto de Alhambra, promulgado em 31 de março de 1492, ordenando que todo judeu deixasse o território espanhol até 31 de julho de 1492, dando início ao terrível período inquisitorial (31 de julho de 1492 equivale a 9 de Av).

– Também nos lembramos do período das Cruzadas e do Holocausto, onde grande parte do povo judeu pereceu.

Neste dia fazemos um jejum completo, como em Yom Kippur. Também há o costume de sentarmos em cadeiras baixas ou deitarmos no chão, como fazemos em Shivá (primeiros 7 dias de luto por um familiar). Não usamos peças de roupas de couro, não nos lavamos nem fazemos a barba. Tudo para que 9 de Áv seja lembrado com grande tristeza. Neste dia, nem sequer saudamos as pessoas com palavras; apenas inclinamos a cabeça. A área do Kotel fica intransitável, e grande parte das pessoas que vem aqui dormem no chão, passando a noite lendo o Livro de Lamentações, o livro de Jó e o Kinnot (poemas de lamento). Este é o único dia no qual colocamos uma cortina preta sobre o Aron Há Kodesh e a Torá não é estudada. Tishá be Av é um dia de grande luto para o judeu.

Caminhando neste dia pela esplanada do templo e, sentado ao chão, leio as palavras do profeta Jeremias. Sou tomado de grande tristeza ao vislumbrar as grandes tragédias que as nações nos causaram. Nós, que deveríamos ser LUZ, ser Bênçãos para os gentios, nos vemos odiados, rejeitados e perseguidos. Mas a grande tristeza invade o meu coração quando vejo que muitas destas catástrofes poderiam ter sido evitadas se nós, como povo de Israel, tivéssemos dado mais atenção aos princípios do Eterno, obedecido e guardado profundamente em nosso coração os mandamentos do Eterno.

Vejo Israel nestes dias e me preocupo. Leio as palavras de Zacarias e tento aplicá-las no tempo presente:

“Fala a todo o povo desta terra, e aos sacerdotes, dizendo: Quando jejuastes, e pranteastes, no quinto (Av) e no sétimo mês (Tishrei), durante estes setenta anos, porventura, foi mesmo para mim que jejuastes? Ou quando comestes, e quando bebestes, não foi para vós mesmos que comestes e bebestes? Não foram estas as palavras que o SENHOR pregou pelo ministério dos primeiros profetas, quando Jerusalém estava habitada e em paz, com as suas cidades ao redor dela, e o sul e a campina eram habitados? E a palavra do SENHOR veio a Zacarias, dizendo: Assim falou o SENHOR dos Exércitos, dizendo: Executai juízo verdadeiro, mostrai piedade e misericórdia cada um para com seu irmão. E não oprimais a viúva, nem o órfão, nem o estrangeiro, nem o pobre, nem intente cada um, em seu coração, o mal contra o seu irmão. Eles, porém, não quiseram escutar, e deram-me o ombro rebelde, e ensurdeceram os seus ouvidos, para que não ouvissem. Sim, fizeram os seus corações como pedra de diamante, para que não ouvissem a lei, nem as palavras que o SENHOR dos Exércitos enviara pelo seu Espírito por intermédio dos primeiros profetas; daí veio a grande ira do SENHOR dos Exércitos”.  (Zc 7:5-12)

Sim caros leitores, este é um dia de lamento, um dia de luto. Mas este deveria ser também um dia de arrependimento para nós (Israel) e para as nações. Para as nações pelas catástrofes causadas ao povo escolhido de Deus (quantas destas calamidades ocorreram por ordenança da Igreja? Quanta perseguição e intolerância os cristãos já demonstraram ao povo de Israel nestes 2000 anos de história?). Este é um dia para a Igreja e os povos da Terra arrependerem-se perante Deus e perante o povo judeu pelas atrocidades cometidas.

Em Yom Kippur nos arrependemos dos pecados cometidos como nação contra o Eterno. Em Tishá be Av deveríamos nos arrepender pela desobediência aos mandamentos do Eterno, que segundo ELE mesmo nos admoestou, traria calamidades sobre nós. Muitos dizem que a diáspora judaica já acabou e que agora todo judeu tem um Estado pronto para acolhe-lo. Mas eu digo que o judeu hoje em Israel ainda sofre uma diáspora ainda pior do que a física: há aqui uma diáspora espiritual! Ou seja, cada vez mais a sociedade israelense se esquece de quem é, de onde veio, e para onde vai. Cada dia mais vejo as pessoas mais distantes do Deus de Israel, preocupando-se mais em serem uma nação como as nações da Terra.

Bem, Israel não é qualquer nação e eu não sou qualquer pessoa. Sou judeu e minha obrigação para com Deus e para com este planeta é ABENÇOAR, é ser LUZ e BÊNÇÃO, ensinando e cuidando para que os homens conheçam ao Deus de Abraão, Isaque e Jacó e guardem os Seus preceitos! Orem meus queridos irmãos, para que Israel desperte de seu sono profundo; para que o véu que falou o profeta Isaías seja removido do rosto de meus compatriotas, para que voltem-se para a Torá e para os Profetas, reconhecendo o Messias a quem rejeitaram no passado. Que possamos todos a uma só voz declarar em tempo breve e oportuno: “Baruch Há Bá Be Shem Adonai” – Bendito é o que Vem, em nome do Senhor!

Ao término da leitura de Lamentações durante Tisha be Av, todos ficamos de pé e entoamos em uma só voz: Chadesh iameinu ke kedem. Renova os nossos dias, como nos dias da antiguidade!

Autor:

Matheus Zandona Guimarães é descendente de Judeus com origem na Itália e em Portugal. Graduado em Comunicação Social, estudou teologia com ênfase em Estudos Judaicos nos EUA e Hebraico e Cultura Judaica em Jerusalém - Israel. É o atual presidente do Ministério Ensinando de Sião e rabino da Sinagoga Har Tzion em Belo Horizonte. É diretor internacional do Netivyah Bible Instruction Ministry (ISRAEL) e diretor regional da UMJC (Union of Messianic Jewish Congregations) - EUA. Matheus é casado com Tatiane e tem dois lindos filhos, Daniel e Benjamin. (facebook.com/mzandonna, @matheus.zandonna)

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